Parashat Terumah - A Menorá, seus "ramos" e seu sentido

Um importante texto do Midrash Tan'humá relata como Moshe não entendeu as instruções de HaShem sobre como construir a Menorá.

Isso destaca a complexidade das instruções que constam na própria Torá, algo que os comentaristas da antiguidade discutiram e um problema que se mantém até hoje.

O Dr Steven Fine apresenta uma abordagem sobre a complexidade da questão, considerando Filo e Josefo, na interpretação simbólica da Menorá, com base em seu livro, The Menorah: From the Bible to Modern Israel (A Menorá: Da Bíblia ao Israel Moderno - Cambridge, Harvard University Press, 2016).

Tentando imaginar a Menorá

Shemot 25:31 - 40 descreve o comando de HaShem a Moshe para construir um candelabro dourado (a Menorá) no Tabernáculo.

שמות כה:לא וְעָשִׂיתָ מְנֹרַת זָהָב טָהוֹר מִקְשָׁה תֵּעָשֶׂה‏ הַמְּנוֹרָה יְרֵכָהּ וְקָנָהּ גְּבִיעֶיהָ כַּפְתֹּרֶיהָ וּפְרָחֶיהָ מִמֶּנָּה יִהְיוּ.

Shemot 25:31 – Faça uma menorá de ouro puro. Ela deve ser uma obra de forja; sua base, haste, seus cálices, argola e folhas e pétalas externas devem ser feitos de uma única peça.

A Menorá é descrita por alto e chega até, a confundir detalhes duas vezes na Torá.

[O texto massorético (Shemot 37: 17 a 24) e a Torá Samaritana, incluem uma repetição desta descrição, na seção que lida com o tema de como Betzalel cumpriu o mandamento. Mas, a versão Grega do Sefer Shemot, na Septuaginta, não contém quaisquer repetições, na seção sobre a construção do tabernáculo e, provê apenas o mandamento divino inicial.]

Esta é uma situação estranha, no que diz respeito a organização das terminologias, colocadas de modo repetitivo, seja na tradução ou no hebraico original. A repetição constante da necessidade de ter cálices, argola de folhas e pétalas externas é especialmente obscura:

כה:לג שְׁלֹשָׁה גְבִעִים מְשֻׁקָּדִים בַּקָּנֶה הָאֶחָד כַּפְתֹּר וָפֶרַח וּשְׁלֹשָׁה גְבִעִים מְשֻׁקָּדִים בַּקָּנֶה הָאֶחָד כַּפְתֹּר וָפָרַח כֵּן לְשֵׁשֶׁת הַקָּנִים הַיֹּצְאִים מִן הַמְּנֹרָה.

25:33 – Em cada braço devem ser colocados três cálices com o formato semelhante a botões de amêndoas, cada um com uma argola de folhas e pétalas externas; da mesma forma, do lado oposto do braço, três cálices com o formato semelhante ao de botões de amêndoas, cada um com uma argola de folhas e pétalas externas; de forma similar, os seis braços devem estender-se da Menorá.

כה:לד וּבַמְּנֹרָה אַרְבָּעָה גְבִעִים מְשֻׁקָּדִים כַּפְתֹּרֶיהָ וּפְרָחֶיהָ. כה:לה וְכַפְתֹּר תַּחַת שְׁנֵי הַקָּנִים מִמֶּנָּה וְכַפְתֹּר תַּחַת שְׁנֵי הַקָּנִים מִמֶּנָּה וְכַפְתֹּר תַּחַת שְׁנֵי הַקָּנִים מִמֶּנָּה לְשֵׁשֶׁת הַקָּנִים הַיֹּצְאִים מִן הַמְּנֹרָה. כה:לו כַּפְתֹּרֵיהֶם וּקְנֹתָם מִמֶּנָּה יִהְיוּ כֻּלָּהּ מִקְשָׁה אַחַת זָהָב טָהוֹר.

25:34 – Na haste central da Menorá, devem ser colocados quatro cálices com o formato semelhante ao de botões de amêndoas, cada um com sua argola de folhas e pétalas externas.

25: 35 – Cada par de braços deve se unir à haste central por uma argola de folhas externas de uma peça com o par de braços – os seis braços devem ser assim.

25: 36 – As argolas de folhas externas e os braços devem ser [feitos] de uma única peça com a haste. Assim, a Menorá toda deve ser [feita de] uma única peça de obra de forja, de ouro puro.

Um excelente exercício de compreensão indicado pelo Dr Fine é ignorar como a Menorá é entendida popularmente, e tentar desenhar o modelo da Menorá apenas com base no que se lê no texto, como está atualmente.

Quem faz tal exercício tende a concordar que, a Menorá teria o formato de uma planta crescida, completa com galhos, folhas e flores.

É claro que, muitas outras interpretações são possíveis, o que provoca grandes discussões.

Imaginar o verdadeiro formato da Menorá por trás do texto bíblico não é tarefa fácil. Não vivemos dentro da mesma cultura visual que o Israel antigo.

Comentaristas da antiguidade até o presente tendem a se concentrar no estudo filológico detalhado da Menorá, palavra por palavra. Na interpretação do Dr Fine, porém, os textos sobre o tabernáculo são muito mais claros, quando lidos em voz alta numa performance pública, como é feito na sinagoga. A voz do leitor preenche espaços entre as palavras e impulsiona nossa experiência. Isso cria uma espécie de escuta impressionista, com cada detalhe da descrição bíblica dando formato ao todo.

A arte fornece um exemplo visual para explicar este ponto de vista.

Quando você olha para uma pintura do impressionista Claude Monet de perto, tudo o que você consegue ver são pinceladas, cores e formas.

Apenas à distância a pintura de Monet entra em foco na visão e apresenta um todo coerente — uma "impressão".

Assim como os vasos do Tabernáculo.

Moshe não entende o que fazer (Midrash Tan'humá)

Os rabinos antigos estavam cientes de que algo estava faltando no texto da Torá, e seria isso o que dificulta nossa compreensão. Uma história preservada no Midrash Tan'humá (obra do século VIII), por exemplo, imagina que Moshe teria sido incapaz de visualizar o objeto descrito por HaShem.

Este Midrash foca a atenção no verso final na passagem sobre a Menorá (Beha'aloteha 11, Buber ed.):

שמות כה:מ וּרְאֵה וַעֲשֵׂה בְּתַבְנִיתָם אֲשֶׁר אַתָּה מָרְאֶה בָּהָר.

Shemot 25:40 – Tenha o cuidado de fazê-los de acordo com o modelo mostrado a você na montanha.

Notando que Moshe teve que ver uma imagem para entender, e que Betzalel era o único autorizado a construí-la, este Midrash relata:

ר' לוי אמר מנורה טהורה ירדה מן השמים,

O rabino Levi disse: "Uma Menorá pura, desceu dos céus."

למה? שאמר לו הקדוש ברוך הוא למשה ועשית מנורת זהב טהור,

Porque? Pois o Santo, bendito seja, disse a Moshe: "E você fará uma Menorá de ouro puro" (Shemot 25:31).

א"ל כיצד נעשה,

[Moshe] disse a Ele: 'Como vamos fazer isso?'

א"ל מקשה תעשה המנורה,

[a divindade] lhe respondeu: “Deve ser uma obra de forja;”

אעפ"כ נתקשה משה, וירד ושכח מעשיה,

Mesmo assim, Moshe achou difícil entender aqui, e quando ele desceu, escreveu como era a fabricação

עלה ואמר רבש"ע שכחתי,

Ele subiu e disse: Mestre do Mundo! Eu esqueci [como fabricar].

א"ל ראה ועשה, שנטל מטבע של אש, והראה לו עשייתה, ועוד נתקשה על משה,

Ele [a divindade] lhe respondeu: Olhe e faça! Ele [então] fez sua forma surgir do fogo, e lhe mostrou [o método da] fabricação. E mesmo assim, ele [Moshe] achava a fabricação difícil.

א"ל הקדוש ברוך הוא לך אצל בצלאל והוא יעשה אותה,

Então, o SANTO – bendito seja – lhe disse: Vá até Betzalel, e ele fabricará.

ירד משה ואמר לבצלאל, מיד עשאה,

Então, ele desceu e disse a Betzalel [o que ouviu]. E [Betzalel] a fez imediatamente.

התחיל משה תמיה, ואמר אני כמה פעמים הראה לי הקדוש ברוך הוא ונתקשיתי לעשותה, ואתה שלא ראית עשית מדעתך, בצלאל שמא בצל אל היית עומד כשהראה לי הקדוש ברוך הוא,

Moshe se maravilhou e disse: A mim foi mostrado, várias vezes, pelo SANTO – bendito seja – e, mesmo assim, achei difícil fabricar. E você nem mesmo a viu construída, e a fabricou da tua própria inteligência! Betzalel! Talvez você [já] esteja à Sombra de Elohim (Be-Tzel-El) quando o SANTO – bendito seja – me mostrou a fabricação?

[Também no Talmud, tratado de Menahot 29a]

Aparentemente frustrado, Moshe nota que a manifestação da Divindade no formato flamejante do candelabro, não foi suficiente para que ele compreendesse a fabricação da peça. Mas, Betzalel ben-Uri, cujo nome na tradução literalizada, seria “na sombra do Divino, ou filho da luz” - mostrou ser totalmente apto para a função.

[A Divindade informa a Moshe dizendo:

שמות לא:גוָאֲמַלֵּא אֹתוֹ רוּחַ אֱלֹהִים בְּחָכְמָה וּבִתְבוּנָה וּבְדַעַת וּבְכָל מְלָאכָה. לא:דלַחְשֹׁב מַחֲשָׁבֹת לַעֲשׂוֹת בַּזָּהָב וּבַכֶּסֶף וּבַנְּחֹשֶׁת. לא:הוּבַחֲרֹשֶׁת אֶבֶן לְמַלֹּאת וּבַחֲרֹשֶׁת עֵץ לַעֲשׂוֹת בְּכָל מְלָאכָה.

Shemot 30:3 – Eu o enchi com a influência de Elohim [isto é], com sabedoria, entendimento e conhecimento, de todas as espécies de talentos artísticos.

30:4 – Ele é um mestre de projeto em ouro, prata, bronze,

30:5 – no corte de pedras preciosas de encaixe, entalhamento e todas as outras artes.]

Nesta cena, Moshe não tinha os talentos artísticos e inteligência de Betzalel para realizar o necessário.

A base, a haste, os cálices, e as folhas e pétalas são Mistérios (Nahmanides)

O rabino Moshe ben-Nahman (o Ramban, 1270) fez seu comentário sobre Shemot 25:30 – 31, escrevendo que, “cálices, folhas e pétalas” da Menorá, seriam algo misterioso, usando para isso o texto do Midrash Tan’humá:

חכמת המנורה בגביעיה וכפתוריה ופרחיה מאין תמצא, ונעלמה מאד—אבל היותה מקשה בששה קנים יוצאין מן השביעי ועליהם נר אלהים, ומאירים כלם אל עבר פניה, כל זה תוכל להבין מדברינו שכתבנו במקום אחר—וזה מאמרם: שנתקשה משה במנורה.

A sabedoria da Menorá, de seus copos, lâmpadas e flores, de onde você vai encontrá-los, está bem escondido — No entanto, sua construção a partir de um bloco de ouro, com seis ramos estendendo-se para fora da sétima, e sobre isto, lâmpadas divinas que iluminam todo o espaço à sua frente, tudo isso; pode ser entendido a partir do que escrevemos em explicação em outros lugares — este é o significado da alegação [dos rabinos] de que Moshe teve dificuldade com o suporte de lâmpadas.

Nahmanides aqui está se referenciando numa passagem em Ióv:

איוב כח:כ וְהַחָכְמָה מֵאַיִן תָּבוֹא וְאֵי זֶה מְקוֹם בִּינָה. כח:כא וְנֶעֶלְמָה מֵעֵינֵי כָל חָי וּמֵעוֹף הַשָּׁמַיִם נִסְתָּרָה.

Ióv 28:20 - De onde vem a sabedoria? E onde está o lugar de compreensão?

28:21 - Está escondido dos olhos de todos os vivos, e escondido dos pássaros no ar.

De fato, descobrir onde colocar os copos, lâmpadas e flores, não seria tarefa fácil. Até mesmo os detalhes das "hastes" e como elas se estendem para fora da base, fez com que Nahmanides descrevesse aquilo, como algo incompreensível. Mas, este exagero é objeto de disputa.

O que são os <Kanim> קָנִים da Menorá?

O texto da Torá explica que o Menorá deve ter seis <Kanim> saindo do eixo central:

שמות כה:לב וְשִׁשָּׁה קָנִים יֹצְאִים מִצִּדֶּיהָ שְׁלֹשָׁה קְנֵי מְנֹרָה מִצִּדָּהּ הָאֶחָד וּשְׁלֹשָׁה קְנֵי מְנֹרָה מִצִּדָּהּ הַשֵּׁנִי.

Shemot 25:32 – Seis braços (ou, "talos",) devem estender-se a partir de seus lados, três braços de um lado da Menorá e três do outro;

A tradução padrão de קָנִים <Kanim> é "braços ou talos", baseado na imagem de Menorá, baseado numa planta, a ideia de uma espécie de "árvore da vida".

Alguns até associaram o objeto a uma planta específica, ou seja, "juncos", que são plantas ocas semelhantes a tubos que crescem perto d'água.

Por esta razão, o texto da Septuaginta traduziu para o Grego o termo em Hebraico קָנִים <Kanim> como καλαμίσκος - kalamiskos, imaginando, como veremos, algo como juncos.

Não há instruções bíblicas ou rabínicas, sobre como moldar o <Kanim>.

Os rabinos antigos, bem como a maioria dos outros intérpretes, ficaram em silêncio sobre se os galhos eram retos ou arredondados. A grande maioria dos intérpretes visuais e textuais posteriores, assumiram a ideia das imagens arredondadas, uma tradição atualmente tão popular que não mais se discute.

Ramos Retos: de Maimonides a Menahem Mendel Schneerson

Uma notável exceção a esta tradição interpretativa da ilustração, é visto no trabalho do século XII, o rabino Moshe ben-Maimon (o Rambam, 1204), que, em seu manuscrito do comentário Mishná (agora na Universidade de Oxford), em que o Rambam desenhou sua concepção da Menorá com ramos retos.

[Moses Maimonides, Mishnah im Perush Moshe Ben Maimon, tr. ed. e o comentário de Iossef Kafiḥ (Jerusalem: Mossad Harav Kook, 1965), ao texto de Menaḥot 3:7 (3: 117-20). Ver também o comentário, Maimonides’ Mishneh Torah, Hilkhot Beit ha-Beḥirah 3:7 (Jerusalem: Makhon Mishnat ha-Rambam, 1983): 12: 54-8.]

Como se nota, a imagem no manuscrito é de difícil interpretação, cobrindo lugares do texto do próprio Comentário.

O Rambam admite em seu comentário que suas habilidades de elaboração gráfica, não eram bem desenvolvidas. Seu desenho foi destinado apenas a ser um auxílio visual simples, da sua discussão mais ampla, sobre o formado dos cálices e flores da Menorá. A Menorá em si é um lugar para expor sua discussão sobre lâmpadas e flores.

Seu filho o rabino Avraham, um importante estudioso também, escreveu em seu comentário sobre Shemot que seu pai pretendia ramos retos:

וששה קנים—הקנים (כמו) ענפים נמשכים מגופה של מנורה לצד ראשה ביושר, כמו שצייר אותה אבא מרי ז"ל, ולא בעיגול כמו שצייר אותה זולתו.

Os "Seis <Kanim>"- os galhos <Kanim> (são como) que se estendessem da base do candelabro em direção ao topo, em linha reta, assim como meu pai de memória abençoada a desenhou, e não em [formato de] um arco, como outros o desenharam.

A imagem do Rambam foi copiada diligentemente nas gerações posteriores. Os manuscritos foram preservados da Espanha medieval e no Iêmen. Estes escribas copiaram a Menorá como o Rambam havia desenhado, com galhos retos.

Esta tradição visual foi ignorada, até ser trazida a público pelo rabino iemenita-israelense Iossef Kafih, em sua edição do comentário Mishná de Maimonides (Jerusalém, 1964). Este material acabou sendo popularizado pelo Lubavitcher Rebe, o rabino Menachem Mendel Schneerson, durante a década de 1990.

Ramos Curvos: A Interpretação Popular

A Menorá com galhos retos, no entanto, nunca se tornou popular até hoje. Na verdade, se por um lado a Torá não é clara sobre como os ramos deveriam ser moldados, a representação real da Menorá tem sido sistematicamente apresentada, como o modelo do Arco da Vitória de Tito, da Roma antiga.

A imagem mais antiga deste modelo, aparece numa moeda do período dos Hashmonaim, Matatiaahu Antignus (39 antes da era comum), que cunhou uma pequena moeda de bronze (uma ‘prutá’ em hebraico, um lepton em grego) com a imagem de um Menorá de sete ramos, seus ramos paralelos arqueando pelos lados do talo central, e culminando na mesma linha na altura da lâmpada central.

Milhares de exemplos de menorot (plural de Menorá) de forma semelhante eram conhecidos, incluindo um o Ashlar recentemente descoberto da sinagoga Migdal (século I. da era comum) e, claro, a Menorá do Arco de Tito.

Este formato também foi usada pelos samaritanos na antiguidade e popularizado pelos cristãos na Europa medieval.

É difícil encontrar um Menorá que não se encaixe nesse modelo ilustrativo — e, historicamente, alternativas não foram muitas vezes criadas por artesãos; desenhar uma Menorá com galhos curvos também foi considerado difícil!

Interpretação no Segundo Período do Templo

Intérpretes do segundo período do Templo, escrevendo em grego, explicaram que a Menorá, suas sete luzes e os ramos arredondados, eram representações astronômicas.

Cada ramo paralelo representava o curso celestial do "planeta" que se sentava acima dele. Juntos, eles representam o cosmos.

Filo de Alexandria

Filo de Alexandria, escrevendo durante o primeiro terço do século I da era comum, relacionava diretamente, o formato dos ramos arredondados da Menorá, com a trajetória dos planetas ao redor do Sol:

Ele diz que a abordagem para eles é do lado (e) o lugar do meio é o do sol. Mas para o outro ["planetas"] Ele distribuiu três posições nos dois lados [do suporte]; no [grupo] superior estão Saturno, Júpiter e Marte, enquanto no interior [grupo] estão Mercúrio, Vênus e a Lua.

[Philo of Alexandria, Questions and Answers on Exodus, 75]

Filo teria sido o primeiro autor a fornecer contexto para a necessidade dos ramos arredondados, associando-os com suas preocupações astrais.

Esta abordagem remonta a uma associação das lâmpadas do candelabro com os planetas, e aparece pela primeira vez no texto do profeta Zehariah já durante o século VI antes da era comum, que descreveu os cinco planetas visíveis, além do sol e da lua, como os "olhos de HaShem:"

זכריה ד:י שִׁבְעָה אֵלֶּה עֵינֵי יְ־הוָה הֵמָּה מְשׁוֹטְטִים בְּכָל הָאָרֶץ.

Zehariah 4: 10 ... Estes sete são os olhos de HaShem, que percorrem toda a Terra.

Na obra sobre a Vida de Moshe, Filo vai mais longe ao associar a Menorá com o cosmos:

O castiçal que ele [Moshe] colocou no sul [do Tabernáculo] calculando assim os movimentos dos luminares acima; para o sol e a lua e os outros [que] correm seus cursos no sul ao norte. E, portanto, seis ramos, três de cada lado, saem do castiçal central, elevando o número para sete, e em todos estes estão definidas sete lâmpadas e portadores de velas, símbolos do que os homens da ciência chamam de planetas. Pois o sol, como o castiçal, tem o quarto lugar no meio dos seis e dá luz aos três acima e aos três abaixo dele, então sintonizando para harmonia de um instrumento de música verdadeiramente divino.

[Philo of Alexandria, The Life of Moses, 2, 102-3]

Os ramos arredondados davam assim, expressão a essa "música verdadeiramente divina" que Filo fala, apoiando os planetas em seus caminhos, mesmo que eles apoiem as luzes deste artefato bastante fino.

Josefo

Uma geração depois, Josefo explicou os ramos de forma semelhante. Na obra, Guerra Judaica 5.216-17 ele descreve que:

"As sete lâmpadas (sendo o número de lâmpadas do suporte de lâmpadas) representam os planetas".

[Jewish War 5.216-17.]

Ele voltou a este tema por volta de 90 da era comum, em sua obra principal, Antiguidades dos Judeus, onde Josefo descreveu a Menorá do Tabernáculo dizendo:

De frente para a mesa, perto da parede sul, estava um candelabro de ouro fundido, oco, e do peso de cem minas; este (peso) os hebreus chamavam kinchares, uma palavra que, traduzida para o grego, denota um talento. Era feito de glóbulos e lírios, juntamente com romãs, e pequenas tigelas, numerando setenta no total; estas foram compostas a partir de uma única base até o topo, tendo sido feito para consistir de tantas porções como atribuídos aos planetas com o Sol. Ele terminou em sete kefalas (κεφαλὰς) "ramos" [literalmente "cabeças"] regularmente destacadas numa fileira. Cada ramo [cabeça] tinha uma lâmpada, lembrando o número de planetas; as sete lâmpadas na direção sudoeste, e o candelabro sendo colocado na transversal.

[Flavius Josephus, Antiquities of the Jews 3.146]

Filo e Josefo explicaram deste modo, que a Menorá era uma representação da ordem cósmica imaginada na época.

Esta interpretação pode ter sido considerada, bastante razoável para um público romano. O Professor Fine menciona, por exemplo, uma estatueta de prata da deusa Tutela, na qual as cabeças de sete divindades planetárias, ficavam situadas num arco acima dela nos céus.

Leitores romanos podem ter feito essa conexão. Da mesma forma, cada um dos ramos do Menorá suportaria um dos luminares celestiais — os "olhos de HaShem" do texto do profeta Zehariah.

Ianai, o Poeta

Embora essa interpretação não tenha sido popular entre os primeiros rabinos, ela aparece em fontes antigas, de um período um pouco posterior. Por exemplo, o poeta da sinagoga do século VI, rabino Ianai coloca desta forma:

מְנוֹרַת שִׁבְעָה נֵירוֹת מָטָּה,

נִדְמוּ לְשִׁבְעַת מַזְּלוֹת מָעְלָה.

As sete lâmpadas da Menorá abaixo

São como as sete constelações [planetas] acima.

[The Liturgical Poetry of Rabbi Yannai, ed. Z. M. Rabinovitz (Jerusalem: Bialik Institute, 1985–1987): 2: 242, lines 71-72]

Dando sentido a partir de um texto confuso

A descrição bíblica do Tabernáculo sobre a Menorá é realmente difícil de conceituar. Cada elemento deste artefato complexo está aberto à interpretação, e as tentativas de visualizar o artefato original podem ser frustrantes. Filo, Josefo e Ianai optaram por uma interpretação astrológica.

Os antigos tinham uma profunda consciência de que "HaShem está nos observando à distância". A Menorá representava essa conexão e concepção.