Ta'anit 2 ~ Chuvas e o argumento chamado "Deus das Lacunas"

תענית ב, א

כְּתִיב הָכָא: ״עֹשֶׂה גְדֹלוֹת עַד אֵין חֵקֶר״, וּכְתִיב הָתָם: ״הֲלוֹא יָדַעְתָּ אִם לֹא שָׁמַעְתָּ אֱלֹהֵי עוֹלָם ה׳ בּוֹרֵא קְצוֹת הָאָרֶץ לֹא יִיעַף וְלֹא יִיגָע אֵין חֵקֶר לִתְבוּנָתוֹ״, וּכְתִיב: ״מֵכִין הָרִים בְּכֹחוֹ נֶאְזָר בִּגְבוּרָה״.

Está escrito aqui: “maravilhas acima do que se pode avaliar”, e está escrito lá, com respeito à criação do mundo: Você não ouviu, não sabe que o Elohim do mundo, o criador dos confins da terra, não se cansa nem se esgota? Seu entendimento não pode ser sondado. (Ieshaiahu 40 : 28). Isso mostraria que tanto a criação quanto as chuvas estariam além da compreensão

Nas páginas seguintes, os rabinos citaram muitos outros exemplos desse poder.

תענית ז, ב

אָמַר רַבִּי חָמָא בְּרַבִּי חֲנִינָא: גָּדוֹל יוֹם הַגְּשָׁמִים כְּיוֹם שֶׁנִּבְרְאוּ שָׁמַיִם וָאָרֶץ

O rabino Hama, filho de rabino Hanina, disse: O dia das chuvas é tão grande quanto o dia em que os céus e a terra foram criados ...

אָמַר רַב אוֹשַׁעְיָא: גָּדוֹל יוֹם הַגְּשָׁמִים, שֶׁאֲפִילּוּ יְשׁוּעָה פָּרָה וְרָבָה בּוֹ, שֶׁנֶּאֱמַר: ״תִּפְתַּח אֶרֶץ וְיִפְרוּ יֶשַׁע״. אָמַר רַבִּי תַּנְחוּם בַּר חֲנִילַאי: אֵין הַגְּשָׁמִים יוֹרְדִים אֶלָּא אִם כֵּן נִמְחֲלוּ עֲוֹנוֹתֵיהֶן שֶׁל יִשְׂרָאֵל, שֶׁנֶּאֱמַר: ״רָצִיתָ ה׳ אַרְצֶךָ שַׁבְתָּ שְׁבִית יַעֲקֹב. נָשָׂאתָ עֲוֹן עַמֶּךָ כִּסִּיתָ כל חַטָּאתָם סֶלָה״.

O rabino Oshaia também disse: O dia de chuvas é grande, pois a chuva até facilita a redenção, que fecunda e se multiplica naquele dia. É um tempo do favor Divino, quando a redenção é trazida ao mundo, como está declarado: "Abra a terra, para que traga a salvação" (Ieshaiahu 45 : 8).

E de acordo com o rabino Tan'hum, um dia chuvoso demonstraria que "todas as transgressões do povo israelita foram perdoadas." É como, um outro Iom Kipur - Ta'anit 7b:

אָמַר רַבִּי תַּנְחוּם בַּר חֲנִילַאי: אֵין הַגְּשָׁמִים יוֹרְדִים אֶלָּא אִם כֵּן נִמְחֲלוּ עֲוֹנוֹתֵיהֶן שֶׁל יִשְׂרָאֵל, שֶׁנֶּאֱמַר: ״רָצִיתָ ה׳ אַרְצֶךָ שַׁבְתָּ שְׁבִית יַעֲקֹב. נָשָׂאתָ עֲוֹן עַמֶּךָ כִּסִּיתָ כׇל חַטָּאתָם סֶלָה״.

O rabino Tan'hum bar Hanilai disse: A chuva cai apenas se as transgressões do povo israelita forem perdoadas, como está escrito: “HaShem, Tu tens sido favorável à Tua terra; Você libertou o cativeiro de Iáacov; Você perdoou a iniquidade do Seu povo; Você perdoou todos os seus pecados. Selah”

PORQUE CHOVE?

Com a ciência explicando cada vez mais o mundo real, o papel do argumento sobrenatural parece estar diminuindo rapidamente.

E a forma como a chuva foi e é compreendida, serve como um exemplo perfeito disso.

No passado, imaginávamos que a única explicação possível para a chuva, seria dizer que ela acontecia de forma sobrenatural. Quem imaginava a Divindade como um ser sobrenatural, pensava necessariamente deste modo.

Agora entendemos que a chuva cai quando as gotas de água se condensam umas nas outras dentro de uma nuvem. Eventualmente, essas gotas ficam muito pesadas para ficarem suspensas e caem sob o efeito da gravidade, como chuva. Existem também efeitos regionais maiores, por exemplo, como sistemas barométricos de baixa pressão, cujas origens estão na forma irregular como o sol aquece a superfície da Terra. E também há o padrão climático El Niño, que pode não ter contribuído muito para mudar o clima no antigo Oriente Próximo, mas certamente não pode ser ignorado. É causada pelo aquecimento incomum das águas superficiais no Oceano Pacífico tropical oriental. “O evento de 1997-98 produziu condições de seca na Indonésia, Malásia e Filipinas. O Peru experimentou chuvas muito fortes e inundações severas. Nos Estados Unidos, o aumento das chuvas de inverno atingiu a Califórnia, enquanto o meio-oeste experimentou temperaturas altas recordes durante um período conhecido como “o ano sem inverno”.

Como, então, poderíamos pensar sobre o poder Divino de "trazer chuva", quando conhecemos tantos passos que estão envolvidos no fenômeno?

Basta remover o argumento do Divino, da esfera do sobrenatural.

O sobrenatural não tem lugar no mundo real, pois, não se verifica no mundo de verdade, nenhum evento sobrenatural. Mas, se verificam diversos eventos reais e maravilhosos e, estes, seriam então, os testemunhos da ideia do Divino, se compreendida como manifesto da Realidade.

O PÉSSIMO ARGUMENTO DO "DEUS DAS LACUNAS"

A falácia lógica e argumentativa, chamada "Deus das lacunas", consiste em fazer com que a ideia chamada "Deus" (ou seja, o argumento de defesa do sobrenatural) seja invocada para "explicar" aquilo que a ciência ainda não tiver sido capaz de elucidar.

A observação desta ideia nociva, parece ter sido invocada pela primeira vez por Nietzsche (1844-1900) que teria dito:

“... em cada brecha eles colocam seu delírio, seu paliativo, que eles chamavam de Deus."

(Friedrich Nietzsche, The Portable Nietzsche , trad. Walter Kaufman (London: Penguin, 1988), 204).

Mas usar a palavra "Deus", para explicar aquilo que nosso conhecimento não dá conta, não pode resolver nenhum problema, nem ensinar absolutamente nada. Fazer isso apenas está condenando o conceito, a se tornar cada vez mais irrelevante.

Um teólogo alemão chamado Dietrich Bonhoeffer, que infelizmente foi assassinado pelos nazistas em 1945, entendia isso muito bem. Ele disse:

"Pois as fronteiras do conhecimento estão inevitavelmente sendo empurradas para trás cada vez mais..."

E numa frase que ele escreveu em suas Cartas da prisão, ele completou:

“O que significa dizer, que você só pensa em Deus como um obstáculo. Ele também está sendo empurrado para trás, cada vez mais, e está em recuo mais ou menos continuamente. Devemos encontrar Deus no que sabemos, não no que não sabemos. Deus quer que reconheçamos sua presença, não em problemas não resolvidos, mas naqueles que são resolvidos...

“Dietrich Bonhoeffer, Letters and Papers from Prison (Nova York: Touchstone, 1997, 311).

O desafio, então, para os racionalistas modernos, não é compreender a Divindade como a fonte da chuva, como se fosse um argumento sobrenatural, como se não entendêssemos por que chove.

Nosso objetivo é compreender que o sobrenatural nunca existiu. A Divindade é sinônimo da realidade. E isso nos permite entender tudo sobre o clima e outras ciências, testemunhando a sabedoria que há na realidade como é. Esta realidade é Manifesto da Divindade.

E isso é muito mais difícil do que mentir sobre o sobrenatural.

Mas, é o único caminho possível para quem dá valor ao que é verdade.